Qual diferença a Safira fez em sua carreira?
Muita diferença. Cada personagem que entra na nossa vida acrescenta e abre novas possibilidades de outros universos nunca representados. Um personagem é feito de contrastes: ninguém é totalmente bom, totalmente mau ou totalmente fogoso. A Safira tem isso e hoje, com 39 anos, consigo enxergar o que não enxergava antes. Ela é a personagem de maior sucesso da minha carreira. Safira é aquele tipo de mãe superprotetora, pra quem os filhos vão ser sempre crianças. Você se considera uma mãe superprotetora? Sou uma mãe muito atenta e muito presente, mas superprotetora não. Acho isso ruim. Eles têm que tomar o rumo deles e estar preparados pra vida. Digo sempre pro Enzo: ‘Arrume a sua cama, aprenda a viver, a fazer uma comida pra você, varra o chão pra você aprender o que é...’. Temos um laço afetivo imenso porque tive essas crianças porque realmente quis. O Edson (Celulari) também é um paizão e vivemos muito feliz com eles. Eles só acrescentaram na nossa vida e nos trouxeram coisas boas. Agora, eles têm que tomar o próprio caminho e não o nosso. O ritmo de gravação é sempre muito intenso, como você faz pra não deixar que isso atrapalhe a sua vida pessoal? Fazer novela é estar num momento muito atípico da vida. A prioridade é a novela. Mas você tem a sua casa, o seu marido, seus filhos e tem coisas horríveis que acontecem. A gente não consegue ir à festa de fim de ano em que o filho vai se apresentar, por exemplo... Esse ano o Edson não estava aqui no dia do aniversário do Enzo. O que nunca aconteceu na vida! Ele estava em Amsterdã (nas gravações de Páginas da Vida), não dava pra pegar um avião e chegar. Comemoramos sem o pai no dia do aniversário, mas com a família e os amigos que ele queria e deixamos pra fazer a festa quando o pai chegasse. Foi uma escolha do Enzo, inclusive. Não é também um bicho de sete cabeças. Agora, ginecologista e dentista é uma loucura pra marcar! A Safira abusa das saias lápis justas, dos saltos e das lingeries aparentes. Você gosta de se vestir de forma sensual como ela? Ela é um pouquinho a mais. Costumo dizer que ela é embalada a vácuo, aquela que não pode comer uma azeitona, porque aparece. Tenho sempre a sensação de que a Safira está transbordando. Ela é uma mulher de brechó, não é chiquérrima até porque nem tem grana pra isso. Gosto da lingerie aparecendo, acho bonito e sexy. Isso vem de estilistas famosos, de quem as roupas são feitas pra lingerie aparecer. Roupas de brechó também acho bacana, só que mais os acessórios até do que as roupas. As cenas de Safira com Pascoal esbanjam sensualidade. Você alguma vez já se sentiu desconfortável fazendo esse tipo de cena? Natural não é. Principalmente quando você trabalha com a pessoa pela primeira vez. Tem ali um certo pudor. E é difícil fazer essas coisas na frente de uma equipe toda. Mas sempre tive a sorte de ter companheiros muito educados, muito gentis e muito calmos. Pessoas que são muito bem-resolvidas em casa também. O Giani (Reynaldo Gianecchini) é um menino chiquíssimo, é um companheiro delicadíssimo, muito gentil, muito educado e está sempre me deixando confortável, sem me expor. A gente ri muito, ficamos muito amigos. Hoje temos uma intimidade profissional muito gostosa e isso amortiza todo esse desconforto. Mas claro que não é confortável. Só que, como é comédia, nada pesa e fica leve para nós intérpretes. Em nenhum momento deu qualquer tipo de problema, até porque tenho um companheiro especial. As pessoas que convivem com você costumam dizer que você é muito engraçada. De onde vem essa veia cômica? Acho que da vida inteira. Sempre fui assim. Ser comediante é uma visão do mundo. Se eu ler um texto sério como uma carta de cartão de crédito, por exemplo, que é algo totalmente formal, na terceira frase já estou às gargalhadas. Acho aquilo hilário. Meu filho Enzo tem esse olhar, é gozador igual a mim. Ele morre de rir ao assistir aos filmes de ‘O Gordo e o Magro’ e do Jerry Lewis, que é um gênio, meu ‘muso’ inspirador. Sou uma pessoa alegre, acho que a vida tem que ser gozada e deliciosa. Não dá pra entrar no estúdio 1h da tarde e sair 9h da noite, gravar 20 cenas, ficar que nem uma maluca: chora, levanta, ri, senta e ser uma chatice. Se não fizer daquilo uma alegria, uma comemoração, é um desastre. Qual desses dois traços da sua personalidade você prefere: o da mulher exuberante e sexy ou o da mulher superengraçada e divertida? O da superengraçada e divertida. O lado sexy existe, está dentro de mim de mim de uma maneira relaxada. Não que eu me vista de mulher fatal. Acho engraçado isso, não me permitiria fazer uma coisa dessas. O Miguel Falabella que fala: ‘Cláudia Raia sempre vai vestir o melhor vestido, calçar o melhor sapato, descer a escada como uma deusa, todo mundo vai ficar passado com ela. No terceiro degrau ela caiu, quebrou o salto e está às gargalhadas no chão’. E essa sou eu. Quando você olha pra trás e lembra de toda a sua carreira, do que mais se orgulha na sua trajetória? Da minha seriedade, do meu profissionalismo e de não ter me rendido aos moldes de beleza e de sensualidade onde tentaram me colocar. Quando você tem um tipo físico específico as pessoas lhe enquadram naquele tipo de atriz. Sempre lutei pra fazer coisas ecléticas. Sou muito tinhosa, não paro de lutar, de querer mais, de me surpreender e de me estimular. A comédia me dá um despudor muito grande com a minha própria pessoa. Não tenho compromisso nenhum com a beleza nem com o ‘estar incrível’. Se tiver que fazer um papel da feia, sem dente e gorda, eu faço.
Safira Güney - Bélissima
fonte do texto: Rede Globo fonte da foto: Lenna ( mas depois, eu editei , diferente )
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