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domingo, 10 de outubro de 2010

Porcina 2.0

Bem diferente do original de 1985, ao mesmo tempo doce e nonsense, a Jaqueline de Cláudia Raia se torna o maior hit do remake de Ti-Ti-Ti



Depois de ter chorado baldes de lágrimas e passado boa parte dos capítulos de A Favorita (2008) com o nariz vermelho, como a sofrida Donatella, Cláudia Raia voltou com tudo à comédia superlativa que a consagrou desde os tempos da Tancinha, de Sassaricando (1987). A frasista preferida da TV, a Jaqueline de Ti-Ti-Ti parece ter sido criada sob medida para ela, e é difícil imaginar outra atriz que pudesse fazê-la tão surtada e ao mesmo tempo tão coerente na loucura. No remake da novela, ela é uma figura feminina forte bem diferente da discreta Jaqueline interpretada por Sandra Bréa no original, escrito por Cassiano Gabus Mendes em 1985. Agora, carrega o status de protagonista, ao lado da dupla de inimigos Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Ariclenes Almeida/Victor Valentim (Murilo Benício).

A autora Maria Adelaide Amaral explica que quem mudou primeiro foi Jacques, uma vez que a indústria da moda não comporta mais hoje um costureiro como aquele interpretado por Reginaldo Faria. "Conversando com (as consultoras de moda) Glorinha Kalil e Costanza Pascolato, ficou claro que esse personagem não existia mais, exceto no segmento de roupas de noivas e festas, que não passa pelas crises que os estilistas notáveis conhecem. Desenhamos um Jacques rico e cafona, com uma ambição inversamente proporcional ao seu talento", detalha. "E fizemos surgir na sua vida essa nova, estouvada, insana e talentosa Jaqueline pelas mãos do qual ele ascenderia ao Olimpo do brazilian fashion world. Não havia lugar, portanto, para aquela reservada, discreta, apaixonada e quase servil Jaqueline que trabalhava para um gênio da costura, da Ti-Ti-Ti original."


Fotos:Renato Rocha Miranda/TV Globo/Divulgação

Prima. Foi o diretor Jorge Fernando quem resumiu Jaqueline para Cláudia: "Ele me disse: ‘quero que você seja a primona do Brasil’. Sabe aquela prima doida que todo mundo tem? Acho que conseguimos fazer essa prima", conta a atriz ao Estado enquanto é maquiada, pouco antes de começar uma gravação noturna, na cidade cenográfica da novela, no Projac (leia na página 6).

Alheia a todos os riscos que um remake carrega, entre eles a inevitável comparação com os personagens originais, Jaqueline se tornou querida em poucos dias. Pudera, logo nos primeiros capítulos protagonizou uma cena engraçadíssima, dançando Ilariê, o hit da Xuxa, numa boate com um desajeitado Jacques. "É a música da minha vida!", disse, uma das primeiras de tantas frases que repercutem no Twitter e fazem a alegria dos internautas noveleiros desde que a novela estreou, há três meses.

A cena fez tanto sucesso, que Ilariê acabou voltando à novela outras vezes e se tornou uma espécie de marca registrada da personagem. "Toda vez que eu ouço Ilariê, eu penso: ópera pra quê?", disparou ela outro dia. "A Jaqueline é despudorada, uma mulher que ficou nos 17 anos de idade", diverte-se Cláudia, enquanto leva uma borrifada de água francesa no rosto. "No CAT (Central de Atendimento ao Telespectador da Globo) é uma loucura, todo mundo querendo saber sobre o batom, esmalte e a roupa dela. É uma febrinha. Fiz alguns sucessos na minha vida, sabe? Mas nada tão rápido assim."

Cheia de si. Questionada sobre o humor tão especial de Jaqueline, Maria Adelaide faz justiça ao autor Vincent Villari, que trabalha com ela desde Anjo Mau (1997), quando tinha apenas 18 anos, e também foi colaborador de João Emanuel Carneiro (em Cobras & Lagartos e A Favorita). São dele as frases nonsense de Jaqueline (veja algumas na página ao lado), tão absurdas que, garante o autor, não poderiam ter sido recolhidas por aí - são criação pura mesmo.

Villari conta que quando ajudou Maria Adelaide a estruturar a sinopse da nova Ti-Ti-Ti (que também se apropria de personagens e situações de Plumas & Paetês, outra novela de Gabus Mendes), teve vontade de cortar Jaqueline do remake. "Assisti a alguns capítulos da novela original e achei a Jaqueline chata demais. Uma mulher que ficava o tempo todo atrás do Jacques, implorando para casar com ele. Falei para Maria Adelaide: ‘vamos tirar’", entrega. "Mas ela teve a ideia de transformá-la numa perua casada, que abandona família e tudo o mais por causa desse homem. Trouxe para ela um pouco da Milu (Marília Pêra), de Cobras & Lagartos, aquele tipo de ‘perua tarja preta’, que vive num mundo à parte. Mas, ao contrário da Milu, a Jaqueline é uma pessoa boa."

Boa, honesta e carente, Jaqueline é moldada com todos os exageros dos anos 80, quando, segundo consta, foi vocalista da banda Boletim de Ocorrência, que tinha no repertório músicas como Sérgio Chapelin Apaixonado e Loucuras no Papamóvel. Tem como não cair de amores por ela?

"Ela é aquele tipo de mulher que não cabe em si mesma. É uma deprimida crônica, mas vive falando, gesticulando e enchendo o mundo de barulho para não precisar pensar na vida e ficar sozinha. Ela tem muita comédia, mas um lado dramático também, que faz o público ter carinho por ela", analisa Villari, que diz ainda que a personagem tem o nonsense da Karen Walker (Megan Mullally), do seriado Will & Grace, e a pureza aérea da Phoebe Buffay (Lisa Kudrow) de Friends.

Da Jaqueline de 1985, fica claro, não sobrou nada, além do nome e da paixão por Jacques Leclair que, segundo Villari, ela carregará até o fim.

"Nem me lembro se a Jaqueline original tinha sobrenome. A nova Jaqueline é Maldonado. E, olha, não é qualquer uma que carrega bem um sobrenome desses, viu..."

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