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domingo, 2 de janeiro de 2011

Recém-separada, Claudia Raia diz não se sentir solteira e fala do sucesso da Jaqueline de 'Ti-ti-ti'

Quem vê Claudia Raia roubando a cena diariamente em "Ti-ti-ti", como Jaqueline Maldonado, pode até julgar que ela, mais acostumada aos tipos cômicos, encare com o pé nas costas o atual personagem, sua volta ao humor depois da sofrida Donatela, de "A favorita". Nada disso. O sucesso é o resultado de muito, mas muito esforço, conta a atriz, que vai do pastelão à tragédia numa mesma cena.

- Acendo até vela para dar certo - brinca Claudia, de 44 anos recém-completados.

Além de instigante, o trabalho agora é visto como tábua de salvação, palavras dela. Separada, ela afirma passar por uma fase de luto, diz que o ex-marido, o ator Edson Celulari, ainda é muito presente em sua vida, e revela não se considerar solteira depois do fim do casamento de 17 anos. A mãe de Enzo, de 13 anos, e Sophia, 7, que já fez rir como a Tancinha, de "Sassaricando" e a Safira, de "Belíssima", e demonstrou densidade como a Engraçadinha, da minissérie homônima, fala sobre os filhos, as dificuldades do atual trabalho e também sobre vaidade.


O GLOBO: Jaqueline é um sucesso e rouba a cena na novela. É mais fácil fazer comédia?

CLAUDIA RAIA:
Estou fazendo com sacrifício, meu filho! Acendo até vela para dar certo. É uma ralação, muito difícil essa Jaqueline. O papel me possibilita buscar tudo. Apesar de estar numa estrutura cômica, ela tem surtos de drama, de tragédia, de alta comédia e pastelão. Tudo precisa ser muito estudado para ser crível. É no limite. Senão, vira palhaçada.

E o que impede a Jaqueline de ser só a moça engraçada da novela?

CLAUDIA:
Ela tem um registro diferente de tudo o que já fiz em comédia. E eu procurei isso. No fundo, a personagem tem uma estrutura dramática patética. Jaqueline sofre de solidão profunda. Ela tem uma impossibilidade de aguentar a si própria. É uma mulher tarja preta. É quase um poodle, ela não tem filtros nem limites. E não se valoriza. Morro de pena dela.

O GLOBO: Tem um palpite sobre a razão do sucesso da personagem?

CLAUDIA: O Jorginho (Fernando, diretor geral da novela) e eu temos essa química imbatível. E tenho um casamento profissional com o Alexandre Borges (o Jacques Leclair da trama, grande amor de Jaqueline). Se não me engano, esse é nosso sétimo par romântico. É praticamente uma cláusula contratual (risos).

Como é roubar a cena numa novela?

CLAUDIA: Não existe isso. Mas com a Jaqueline eu tenho a consciência do sucesso. A gente pegou um horário bem comprometido na estreia (depois da fracassada "Tempos modernos"). Achei que "Ti-ti-ti" fosse demorar uns dois meses para pegar, mas na primeira semana entrei num shopping e senti a repercussão.

O que o público mais gosta na personagem?

CLAUDIA: Jaqueline fala sempre o que acredita. É péssima mãe, por exemplo. Mas tem um coração maravilhoso. Por isso é adorada. O Jorginho queria que ela fosse a "primona" do Brasil. Eu, que sou do interior (de Campinas), tenho essa imagem da prima da cidade grande que é o máximo e se veste assim.

Você se inspirou em alguém para compor a Jaqueline? Em quem?

CLAUDIA: Na Sophia (filha caçula da atriz)! Ela é totalmente assim, uma Jaquelininha (risos). E se reconhece na personagem. Esse jeito de falar, com aquelas pausas, por exemplo, quando fala "ma-ra-vi-lho-sa!", é dela. Sabe essa coisa meio adolescente? Esse humor é muito da Sophia.

Mas não há nada da Jaqueline em você?

CLAUDIA:
Eu sou uma pessoa cheia de energia e tenho o chip da alegria. Jaqueline tem um excesso de coisas que nem ela sabe lidar. Eu sou uma pessoa alegre. Já ela, não cabe em si.

Como define aquele estilo extravagante dela?

CLAUDIA: Jaqueline não é perua. Ela é moderna, ousada, não tem medo de misturar os excessos. E tem um olho muito extravagante para a moda. A gente vai botando uns colares e umas pulseiras e ainda acha que está pouco.

Gostou de ficar loura para essa a atual fase da personagem?

CLAUDIA: Sou muito clara e tinha medo de ficar toda bege. Mas acho que isso acendeu a Jaqueline! Quando a Maria Adelaide (Amaral, autora) escreveu a cena em que ela aparecia loura, eu tive um dia para mudar. Passei 18 horas de um domingo dentro de um salão em São Paulo.

O que mais mudou na sua vida no último ano?

CLAUDIA:
Eu mudei a minha alimentação e parei de comer carne vermelha há uns meses. Era a mais carnívora das humanas. Pensei que fosse morrer, mas não morri. Antes, tinha enxaquecas horrorosas e ficava mal. E não como mais derivados do leite por ordens médicas. Com isso, dei uma secada. O resto das mudanças, você sabe: eu me separei.

Como lidou com a separação?

CLAUDIA: É um luto para todos nós. Mas tem filho no meio e foi tudo muito pensado. E feito com respeito. As crianças foram preparadas.

Mas esse período pessoal doloroso veio junto com um momento de explosão profissional...

CLAUDIA:
O trabalho é uma grande tábua de salvação. É difícil fazer a Jaqueline num momento em que eu não estou daquela forma. Mas o trabalho te reconstrói, te leva para um lugar melhor.

E como está a vida de solteira?

CLAUDIA:
Eu não estou solteira ainda. E não me sinto assim. Nunca estive em busca disso de novo. E nem sei se gosto de ser solteira. Se não estou no trabalho, fico com meus filhos. Eu não tenho frequentado nada! Por enquanto, todo mundo fica me olhando de longe. E essas coisas só acontecem quando você está aberta para isso.

Você faz análise?

CLAUDIA: Faço há 10 anos. Estou me trabalhando.

Como é ser mãe de adolescente?

CLAUDIA:
Enzo está com 1,82 m e já calça 43. Ele tem banda (Olly), toca bateria e canta. E está com uma música, "Patricinha", em "Ti-ti-ti". Mas nem eu nem o Edson podemos assistir aos ensaios. Todos os programas de TV querem ele. Outro dia, Enzo falou: "Mãe, não estou preparado para ser um pop star ainda" (risos). Ele quer estudar música em Berkeley.

Mas você não fica completamente coruja ao ver o Enzo já esboçando essa tendência para a música?

CLAUDIA: Fico, mas ele não gosta que a gente interfira muito nessas coisas. E respeitamos. Fora isso, conversamos muito e somos muito amigos. Edson também é um pai maravilhoso.

E a Sophia já demonstra ter alguma inclinação profissional para o futuro?

CLAUDIA: Sophia sou eu com cinco megabytes. Como disse, é uma Jaquelininha. Ela não anda, quica. É ginasta, mas quer ser tudo! Já quis fazer figuração na novela numa cena do hospital frequentado pelo Julinho (André Arteche), como uma das crianças internadas. Eu disse que não seria legal. Ela respondeu: "Mãe, é personagem! Quer saber uma coisa? Você está travando a minha carreira" (risos). Mas ela vai fazer alguma coisa em que apareça. E além disso vai muito bem no colégio. Quando vem o boletim, eu e Edson ficamos olhando um para a cara do outro. A média das notas é nove.

O GLOBO: Jaqueline marca a sua volta à comédia depois de todo aquele drama da Donatela, em "A favorita". Qual a importância do papel anterior na sua carreira?

CLAUDIA: Eu normalmente não seria escalada para um papel como aquele. Mas sou atriz, né? Donatela foi um divisor de águas. Amei fazer e foi muito importante. Fiz muito menos drama do que comédia e isso acaba sendo esquecido. Aliás, acabou uma novela, todo mundo esqueceu. Não adianta falar que depois de um tempo você não tem mais que matar um leão por dia. Até mesmo na comédia. Ali também não tem área de conforto, não tem self-mode.

Ficou preocupada em voltar ao ar em um papel coadjuvante depois de ter sido protagonista no horário nobre?

CLAUDIA:
Não tem isso de que a partir de agora eu só vou fazer protagonista e não quero papel coadjuvante. E isso está ficando cada vez mais comum na nossa realidade na TV. O Silvio de Abreu veio falar para mim no fim de "A favorita": "Claudia Raia, o que eu vou dar para você depois da Donatela?" (risos).


O GLOBO: Quer dizer que a sua produtiva parceria com Silvio de Abreu chegou ao fim?

CLAUDIA:
Claro que não! Eu vou fazer o remake de "Guerra dos sexos" (anunciado pelo novelista para ocupar o horário das 19h em 2012).

O GLOBO: Quais as vantagens de viver um personagem coadjuvante?

CLAUDIA: Um bom coadjuvante pode vir comendo pelas beiradas. Lembra da Safira, de "Belíssima"? Com ela foi assim, por exemplo. Agora, veio a Jaqueline.

O GLOBO: Em "Ti-ti-ti", a Fernanda Souza faz sua filha. Em "Belíssima", você foi mãe da Paola Oliveira e em "A Favorita", da Mariana Ximenes e do Cauã Reymond. Mexe com a sua vaidade já ser escalada para interpretar mães de atores adultos?

CLAUDIA: Que nada! Fico babando as crias e vou adquirindo esses novos filhos supertalentosos. A Fernandinha agora está sendo uma descoberta. Fui vê-la no filme "Muita calma nessa hora" e adorei. Todos eles dormem na minha casa, têm seus chinelinhos lá e se dão muito bem com os meus filhos.

O GLOBO: Gostou de encarar a fase freira da Jaqueline sem todo aquele figurino peculiar dela?

CLAUDIA: Ela fez horrores naquele convento. E eu me diverti. Gravei praticamente sem maquiagem. Só com os cílios postiços.

Você sempre foi uma mulher exuberante. Ficou ainda mais vaidosa depois dos 40?

CLAUDIA: A única coisa que pega mais agora é quando passo uma noite toda em claro. A minha energia muda completamente, cai. No mais, sou vaidosa no ponto. Mas não fico refém disso. E sou tão grande que tenho preguiça de passar creme no corpo todo (risos).

O GLOBO: Você descuidou da balança na reta final de "A favorita". Os comentários e as especulações sobre o seu peso na época incomodaram?

CLAUDIA: Falaram que eu estava grávida, que tinha engordado dez quilos. Gente, eu estava gorda! (risos). Aproveitei um momento da personagem em que poderia ter aquele corpo e relaxei. Mas foi mesmo um excesso aquilo tudo. Emagreci logo depois da novela.

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